quarta-feira, 30 de setembro de 2009

LULA, DILMA, CRIVELLA, A “BISPA” SÔNIA E O “APÓSTOLO” HERNANDES JUNTOS! MEU DEUS!!!

Reinaldo Azevedo

A ministra da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, é amiga de Jesus desde criancinha. Mesmo quando ela integrava a VAR-Palmares, era em Deus que pensava. Tanto é assim que a sua organização antecipou o despacho de algumas pessoas para o céu. Uma delas, por exemplo, era só um correntista de banco. Estava ele lá, feito Inês de Castro, coitadinho!, no sossego dos seus anos, sacando um chequinho no caixa, e eis que chegou um Anjo — futuramente indenizável como perseguido pela ditadura… — de arma na mão para expropriar o banco em nome do povo. E “pimba!”. Lá foi o pai de família morar ao lado de Jesus! Carlos Minc participou dessa operação. Hoje ele acha um absurdo que algumas pessoas matem árvores e minhocuçus. E Dilma continua amiga de Jesus! O mundo é mesmo pândego.

Por que isso? Vejam que foto histórica esta publicada no Estadão Online. Lula instituiu ontem o Dia Nacional da Marcha para Jesus. Participaram da cerimônia, realizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o presidente da Câmara, Michel Temer; o senador e “bispo” Marcelo Crivella (PRB-RJ), sobrinho de Edir Macedo, dono da Igreja Universal,;a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o casal da Igreja Renascer Sônia e Estevam Hernandes. Crivella é este que aparece à esquerda, contraindo os olhos enquanto entra em conexão, suponho, com o Espírito Santo. Nunca entendi por que certos religiosos, de qualquer denominação, quando julgam entrar em contato com a Pomba Sagrada fazem essa cara.

Há quem faça coisas ainda mais estranhas. É o caso da “bispa” Sônia e seu marido, o “apóstolo” Estevam. Quando o Espírito Santo está presente, eles desandam a falar línguas estranhas. Mangabeira Unger perde feio. Não sei como se contiveram ontem. Estevam é essa cabeleira grisalha em primeiro plano; Sônia está à sua direita, a cabeleira castanha. Dilma é aquela com ar beato. A foto não deixa de ser um bom retrato do Brasil.

O casal da Renascer acaba de sair da cadeia nos Estados Unidos e já participa de uma solenidade ao lado de Lula e de sua candidata. Não sei se vocês estão lembrados: a dupla tentou entrar naquele país com dólares que não tinham sido declarados, escondidos na capa de uma Bíblia. O leitor cético dirá que estão todos entre iguais. Afinal, a “bispa” e o “apóstolo” apenas portavam “recursos não-contabilizados”. Ademais, em matéria de dólares ilegais, ninguém é páreo para o pagamento que a campanha de Lula fez a Duda Mendonça no exterior.

Ah, sim: o leitor logo pergunta: “Por que as aspas em ‘bispa’ e ‘apóstolo’?” Porque é como eles se autodenominam, entendem? A palavra “bispa” é uma licença quase poética, além de ser uma brutal licença religiosa. Um feminino aproximado para tal função seria “episcopisa”. Imaginem: “Episcopisa Sônia Hernandes”!!! Já o “apóstolo” é coisa realmente séria. Apóstolos, originalmente, eram 12. Missões divinas dadas a Paulo e Barnabé também permitem que os chamemos assim. Pronto! 14 ao todo! Até a chegarda de Hernandez, o 15º elemento. Todos os apóstolos tiveram contato direto com Jesus — logo, supõe-se ser esse o caso do marido da “bispa”. Quatro coisas são privadas dos apóstolos:- recebem missões diretamente de Jesus;- podem pregar a todos os povos;- são dotados de infalibilidade;- sua jurisdição episcopal é universal; sua igreja é o mundo!Alguns, nem todos, também operam milagres. Parece ser esse o caso de Hernandez. Que eu saiba, em nenhuma outra denominação neopentecostal alguém se colocou tão pertinho de Jesus Cristo.

A Justiça americana liberouo casal para voltar ao Brasil no dia 1º de agosto, 15 dias antes do prazo, par visitar o filho, Felippe Daniel Hernandes, conhecido pelos fiéis como Bispo Tid, internado na UTI em razão de complicações decorrentes de uma cirurgia para redução de estômago. Segundo o Hospital Oswaldo Cruz, ele teve complicações neurológicas de origem metabólica.

Sônia e Estevam, que sempre oraram pelo filho, prometeram orar por Dilma também.

PS - Vocês prometem fazer apenas comentários que nos abrirão as portas do Paraíso?
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Confundindo Ministério com Palco

Carlos Sider

Imagine o que aconteceria se o apóstolo Paulo considerasse que parte – apenas parte – de seu “sucesso” ministerial fosse devido a sua oratória. Já pensou nos conselhos que daria a Timóteo e Tito, recomendando-lhes que desenvolvessem “uma boa lábia”?
Imagine os resultados se Pedro comentasse com seus companheiros que, modéstia à parte, sua pregação no dia de Pentecostes “foi mesmo um marco na história do evangelismo”. Daria para imaginar Pedro negando-se a seguir para Antioquia por conta de sua agenda atarefada pelos muitos convites que teria de atender como evangelista?
Imagine o que seria se Daví se vangloriasse de sua performance como músico e poeta. Passaria pela sua cabeça Daví pedindo sua harpa para curar seu primeiro filho com Bathseba, e dizendo que sua música era “tiro-e-queda”, e já que havia sido capaz de acalmar Saul sua música curaria também seu filho?
É verdade que eles foram homens como nós, sujeitos as mesmas paixões e tentações. É até razoável imaginar que eles devem mesmo ter tido seus momentos em que “se acharam” mais do que eram. Não pensar assim nos leva a tê-los como super-homens, e isso não nos ajuda em nada. Eles foram gente de carne e osso como eu e você.
Mas tenho para mim que eles se resolveram bem. Eles, cada qual a seu modo, foram trabalhados por Deus, seja por espinhos na carne, seja por galos cantando, seja por filhos rebeldes. Se alguma vez tentaram chamar para si o comando foram confrontados pelo dono da obra.
Agora eu o convido a dar uma volta pelos nossos dias. A cada região para onde sigamos, rapidamente saberemos quem é o pastor da moda, qual é a igreja da moda, e qual é o grupo musical que “é massa”, que arrasta uma pequena multidão por onde vá se apresentar. E entenda-se: pastor bom é pastor que prega bem, não aquele que cuida de almas; igreja da moda é igreja grande, com um programação bem legal, não uma igreja que necessariamente viva a Cristo; e o tal grupo musical é um bom “contratipo gospel” das bandas que tocam nas rádios, pouco importa a vida que tenham.
São ministérios? Sim, são. Sérios? Podem ser, dependendo da seriedade dos ministros. Mas são ministérios que estão sob os holofotes.
Ah... e onde estão os ministérios de visitação aos doentes, os de oração, os de serviço, os de cuidado pastoral? Estão onde sempre estiveram – no coração de seus ministros e via-de-regra longe da vista do público, longe dos holofotes.
Mas qual deles está mais perto do coração de Deus?
Eu já aprendí - creia-me, a duras penas - que Deus não tem ministérios preferenciais. São todos necessários e Ele os distribui como quer, a quem quer, da forma e na hora em que deseja. E também aprendí – a ainda mais duras penas – que Deus não está “nem aí” para os ministérios, mas está “todo aqui” para com o coração do ministro. Deus se relaciona conosco, não com nossos ministérios, afinal convenhamos, Ele nem precisaria de nós para fazer o que deseja. Se nos usa é porque investe em nós, seus filhos, sua família.
E quando falo das “duras penas” é porque justamente meu ministério sempre foi um desses que chamo de “ministérios de palco”. Desde que me conheço por gente estou envolvido com música, com letras de música, com o uso da palavra, seja escrita, falada ou cantada. É assim que Deus me usa para falar das Suas coisas.
Costumo dizer que os “ministérios de palco” trazem a quem com eles se envolve um desafio sempre presente, grande e constante: o de separar o ministério do palco, embora ele aconteça justamente lá, no palco.
É de um palco que o pastor prega, é de um palco que alguém canta e toca. E vale lembrar que o palco não é nada. O que o faz maior ou melhor não é seu tamanho, sua altura, sua acústica ou a qualidade do microfone que lhe dão. Pouco importa se é um palco de verdade ou um Cd gravado, um espaço na internet, um livro publicado, ou algum outro tipo de “palanque”. O que lhe dá importância e peso é a arena – o público que se reúne em torno dele.
Alguma igreja tem batalhões de jovens querendo se envolver no ministério de oração? Dúzias de pessoas dispostas a visitar doentes no hospital? Dezenas de pessoas dispostas a fazer parte da escala de serviço, que inclue varrer chão, lavar louça, fazer café, carregar cadeiras? Gostaria de conhecer uma...
Mas sou capaz de adivinhar que sua igreja tem um verdadeiro batalhão de pessoas querendo se envolver no ministério de louvor (leia-se, querendo tocar ou cantar em uma das bandas). Acertei? É mesmo?
Palco. Arena. Público. Estar em evidência. Ser admirado. Dar um show. Mostrar capacidade.
Quem não quer?
Deus não quer!
Ele quer que o coração de quem está no palco seja o mesmo coração de quem chega duas horas antes de todos para sozinho arrumar as cadeiras. Quer o mesmo coração de quem abraça um mendigo para lhe transmitir carinho da parte de Deus.
Este é o desafio. Estar no palco como quem faz uma visita solitária no hospital. Onde por vezes só Deus é testemunha. Pois Deus é o único público que realmente importa agradar. Estar no palco como quem está lá com o salão vazio, sem arena humana, mas com a presença do “público de um”. Com o devido e desejado endosso divino.
Quem canta bem ouve elogios do público? Ouve. Quem prega ouve comentários positivos das pessoas de como sua mensagem foi eficaz? Ouve. Quem toca e canta bem é chamado para gravar um CD? É, mais cedo ou mais tarde. Estes são os frutos do palco. São bons. São deliciosos! Mas duram pouco, muito pouco. E costumam não vir quando você os procura (e Deus sempre tem algo a ver com isso).
Entretanto, quem toca e canta bem, quem prega bem, estando no palco mas com o coração aos pés da cruz, ouve elogios de Deus. Segue ouvindo elogios e comentários do público, é certo, mas aprende a devolve-los a quem pertencem de direito: a Deus – o dono da obra. E Ele administra os frutos do ministério, dando-nos a conhecer, de vez em quando, algo do que anda fazendo através de nós. É bom, é delicioso, muito mais do que os frutos do palco. Os frutos do ministério são eternos.
E você me pergunta se aprendí a fazer isso? Se na teoria sim, na prática sigo tentando, praticando. É duro. É difícil. Creio que não é algo como um obstáculo que se vence e jamais o vemos. Creio que é vencer o de hoje, pois os de amanhã estão logo à frente, passada aquela curva... basta um pouco de distração e...
Quem ama o palco e lhe dá o nome de ministério está brincando com fogo. Na melhor das hipóteses o fará por suas próprias forças. E cedo ou tarde experimentará o peso da mão do dono dos ministérios.
Mas quem de fato ama a Deus e Dele recebe um ministério, seja ele de palco ou dos bastidores (pois pouco importa), segue na maravilhosa e eterna estrada onde caminha quem agrada a Deus e é usado por Ele.
Fonte: http://www.provoice.com.br

O Sincretismo Evangélico

Antonio Carlos Barros

"Muita paz têm os que amam a tua lei" (Salmo 119.165) Um dos grandes trunfos do movimento evangélico no Brasil era o de acusar as outras religiões e seus seguidores de sincréticos e por causa disto, perdidos e condenados a fogueira eterna. O evangélico sempre viu e continua vendo os outros como pessoas irremediavelmente perdidas. Pessoas dignas de pena, de compaixão. Existia sempre um ar de superioridade no rosto do evangélico. Como isto tem mudado!

O meio evangélico tem sido bastante fértil em produzir o seu próprio sincretismo. É, reconhecemos, um sincretismo mascarado de piedade, fervor, unção. A prática evangélica atual não a autoriza a condenar os outros, longe disto. A prática evangélica é hoje totalmente relativa e suscetível aos ditames do marketing religioso. A opressão do "fazer a igreja crescer" levou os pastores, líderes e crentes, de uma maneira geral, a abrir mão dos conceitos e princípios expostos nas Sagradas Escrituras.

Nada disto é consciente (pelo menos eu acho que não é). Tudo é subliminar. Citemos alguns exemplos. Ungir com óleo, que é uma recomendação bíblica no caso de uma enfermidade, ou no cerimonial judaico, tornou-se hoje uma coisa banal. Pessoas são ungidas para as mais diferentes coisas. Seja por uma simples dor de cabeça, ou para arrumar emprego, ou para ter o marido de volta, ou para zerar o saldo devedor no banco.

Outros exemplos: Deixar a Bíblia aberta no Salmo 91 para que ladrão não roube a casa; freqüentar qualquer coisa relacionada com o número sete: sete semanas da oração poderosa, sete correntes da libertação e por aí vai.

O crente hoje é quase que uma pessoa ignorante das verdades bíblicas, das doutrinas evangélicas, dos princípios do Reino de Deus, dos valores e éticas cristãs. O crente de hoje é quase que um analfabeto quando o assunto é fé, justiça, misericórdia, salvação, missão. Se o apóstolo Paulo afirmou que o justo vive pela fé, hoje é difícil descobrir qual a motivação vivencial do crente. Ele vive por causa do quê?

Antes de acusar os seguidores das outras religiões como ignorantes, reflita sobre a sua própria prática cristã. Isto vai lhe fazer bem e lhe conceder autoridade para evangelizar o outro.

"Senhor, firma os passos na tua palavra, pois ela me liberta"

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cristo Salva

Ricardo Gondim

Jesus pode salvar televangelistas, pastores, apóstolos e bispos. Ninguém deve considerar os famosos pelegos da fé irremediavelmente perdidos. Cristo salvou Nicodemos, Zaqueu, Saulo de Tarso. Todos são amados de Deus, inclusive pilantras paramentados. Os cínicos de colarinho clerical também podem herdar o Paraíso. A pergunta é: como?

Salvação chegará à casa do religioso que se dispor a calçar as sandálias do pobre. Os palavrórios idealizados se esvaziariam caso os sacerdotes fossem obrigados a esperar por atendimento, sentados nos bancos duros dos ambulatórios médicos públicos.

Será que os evangelistas engravatados imaginam o drama de uma mãe solteira, negra e sub-empregada? A dor de não achar uma creche para deixar o filho e poder trabalhar? Qual deles estaria disposto a viver, só por um mês, a sorte de milhões de pais que enterraram o filho em uma cova rasa? Quantos já viram a familia dormir com fome? Será que imaginam o beco sem saída da exclusão social?

Tratam a sorte de tantos levianamente. Dá para suspeitar que embarcaram no carreirismo religioso só para escapar da marginalização econômica.

Cristo salva o pastor que for sensível com os que se angustiam nas seções de hemodiálise; junto com famílias que aguardam transplante de pulmão; nas clínicas de fisioterapia, onde mutilados e paraplégicos re-aprendem a andar; nas Unidades de Tratamento Intensivo dos hospitais infantis, onde crianças cancerosas precisam ser amarradas para receber quimioterapia.
Os que vivem da grandiloquência do discurso dogmático podem ser resgatados caso aprendam a solidarizar-se com refugiados de guerra ou de desastres; se souberem valorizar o esforço dos Médicos sem Fronteira, que cuidam dos miseráveis em Darfur.

Enquanto os sacerdotes tagalerarem doutrinas que, no máximo, produzem prosélitos, condenam a si e os seus seguidores a um inferno duplamente aquecido.

Jesus pode libertar os televangelistas, mas é necessário que eles tenham escrupulos de não expoliar os moto-boys que arriscam a vida para ganhar um salário minguado; as empregadas domésticas que se submetem aos caprichos da madame da classe média; os carvoeiros que vivem na boca de fornalha para fazerem o carvão do churrasco do restaurante de luxo; as enfermeiras que enfrentam plantões insones.

Se continuarem a propagandear superstições ilusórias, não passam de cegos guiando outros cegos rumo ao abismo. Deles é o Reino do Mofino.

Entretanto, Deus não tem prazer na perdição dos sacerdotes. O Senhor insiste: "Eis que estou à porta e bato"; "O juízo começa pela casa do Senhor".

Ofereço meu conselho para quem se diz ungido: arrependa-se e volte para Deus, que é rico em misericórdia. Você precisa ser salvo.

Soli Deo Gloria

quarta-feira, 29 de julho de 2009

OVELHAS SEM NOME

Marcos Martins Dias
“..., as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas...”
Jo. 10. 3

O movimento evangélico brasileiro tem experimentado grandes mudanças ao longo das últimas décadas, expandindo-se e multiplicando-se cada vez mais, ocasionando o surgimento de igrejas que congregam milhares de pessoas em um mesmo lugar e constroem templos de grandes proporções de arquiteturas cada vez mais avançadas e mecanismos de comunicação de última geração, além de líderes que se destacam pelo forte esquema de segurança que os cercam e por sua rápida ascensão dentro e fora da igreja.

Creio que não é possível fazer algum tipo de análise deste fenômeno religioso sem causar algum tipo de polêmica; entretanto, mesmo conhecendo a situação a que me exponho, embora não me proponha a aprofundar no assunto, não há como negar que tais mudanças são sempre acompanhadas de privilégios e responsabilidades e, assim como se multiplica o número de fiéis, tudo o mais que está relacionado a eles tende a seguir o mesmo curso.

Dentre estes fatores que merecem destaque, busco conciliar o perfil de pastor e ovelhas descrito por Jesus e a realidade que se constata em grande parte dos movimentos que conquistam a simpatia de um “público” crescente em decorrência da “força” que demonstram por “talentos” que se destacam e “fãs” que se multiplicam e se confundem entre os que ainda preservam as características de legítimos adoradores e seguidores do Filho de Deus, o qual foi confiado aos cuidados de um simples carpinteiro.

Sem me opor, absolutamente, ao avanço numérico e qualitativo dos que, verdadeiramente, experimentam o novo nascimento, observo e concluo que temos lidado com muitas ovelhas “sem nome”, sem pastor(es), amontoadas numa plateia que faz brilhar os olhos dos que as conduzem.
Obviamente que elas tem nome, personalidade, necessidades, problemas que só podem ser conhecidos num relacionamento dissociado do ajuntamento de grandes multidões. Mas, como resgatar aquele pastorado enfatizado por Jesus onde Ele é conhecido assim como conhece Suas ovelhas?

Creio que isto não se constitui em alerta apenas para nós pastores mas, para aqueles que se ajuntam aos montes e se satisfazem com o relacionamento superficial, com experiências pontuais ocorridas nos “espetáculos” que se multiplicam a pretexto de adoração a Deus.

Isto não deve soar como um desabafo de algum pregador frustrado mas, como uma séria preocupação com a necessidade de nos relacionarmos mais como ovelhas que tem uma identidade conhecida dentro e fora dos portões de uma igreja, cujos pastores conhecem assim como também são conhecidos.

Que este arrazoado sirva para nos aplicarmos a uma séria reflexão.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Fé em Deus ou Fé na Fé?

Jean Carlos Serra Freitas

Muitos Cristãos sinceros estão sendo influenciados por feitiçaria. O antigo evangelho da cruz parece não ter mais valor. Os princípios bíblicos de humildade, de serviço, de submissão e contentamento em Deus estão em declínio há mais de duas décadas. Quão doces são as palavras do salmista quando declara no belíssimo Salmo 73.25: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra.”Por meio de mensagens pregadas, por meio de músicas ou livros, um falso e satânico ensino tem sido difundido no meio evangélico. E a mensagem positivista, triunfalista, tão em moda hoje, está muito mais próxima da feitiçaria do que com os ensinos da Santa Palavra de Deus.
As melhores mensagens dos dias atuais são as mensagens positivistas ou motivacionais. Muitos pastores atualmente ganham muito dinheiro falando para empresários. Mas não é o evangelho que é pregado entre os empresários e outros segmentos. A mensagem é motivacional. É para que seus ouvintes trabalhem mais empolgados, na certeza de que, usando certas técnicas, se tornem homens e mulheres mais prósperos. Enfim, é um ensino de como ganhar dinheiro, sucesso e felicidade na vida, empregando técnicas que, supostamente, extraíram da Bíblia.
O grande chamariz é o sucesso! Exemplos como “Vida Vitoriosa; Uma vida com Propósito; Venha ser Feliz; Despertando para o Sucesso; Nascido para Vencer; Conquistando o Sucesso; Culto da Vitória; Culto do Poder; O Poder da Oração”, são mensagens bem típicas dos nossos dias. E a palavra de ordem é que você pode ser feliz, seguindo certas técnicas!
A maioria das modernas técnicas motivacionais usadas pelos animadores de auditório encontra sua raiz num homem chamado Napoleon Hill, adepto da feitiçaria e que, atribuiu seu trabalho a “Escola de Mestres”, que, segundo Hill, eram espíritos guias! Eis aí a base da motivação dos dias atuais, ou seja, ensino de demônios!O Apostolo Paulo nos advertiu quanto a esse engano quando escreveu a Timóteo, alertando-o contra tais ensinos: “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios.” (1 Tm 4.1).
Antigamente dizia-se que o pecado fundamental da humanidade era o orgulho, entretanto, hoje, temos o maior dos males na baixa auto-estima, e o sucesso poder facilmente resolver este problema!
A Igreja deveria rejeitar tais ensinos e seus divulgadores!A Igreja deveria firmar os passos na Palavra de Deus que ensina outro comportamento: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte.” (1 Pedro 5.6).
A cruz santifica a vida do Cristão porque nos mostra o quanto somos pecadores e devedores a Deus e, ao mesmo tempo, enche o coração do verdadeiro cristão de santa alegria, pois sabe que não foi por merecimento pessoal, portanto, recebe com muita alegria o fato de ter Cristo, morrido por nossos pecados. Está é a verdadeira fé que vence o mundo! (1 João 5:4)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sergipe Comemora Sesquicentenário da IPB


No dia 18 de julho, presbiterianos de Sergipe reuniram-se em Aracaju, capital do Estado, e juntos celebraram os 150 anos da IPB.

Segundo o rev. Jáder Borges, executivo da comissão organizadora do Sesquicentenário, caravanas de diversas regiões fizeram-se presentes, demonstrando assim a mobilização e envolvimento dos irmãos nessa iniciativa. O Teatro Tobias Barreto ficou completamente preenchido.
Um grande coral, formado por membros de diversas igrejas do Estado, entoaram cânticos de adoração ao Senhor. A mesa do Supremo Concílio da IPB foi representada pelo rev. Cilas Cunha Menezes, vice-presidente do SC.
O pregador do culto foi o rev. Hernandes Dias Lopes, e o pastor, baseado na passagem bíblica de Is. 44 1-3, afirmou sua crença por um avivamento na IPB e incentivou os presentes a buscá-lo com oração, humildade e desejo. Também abordou como o Deus Todo-Poderoso pode derramar água aos sedentos e preencher suas vidas, usando-as para a glória do Seu nome.
O rev. Jáder destaca também o envolvimento dos presbitérios na organização do evento, e a campanha de divulgação nos dias que antecederam o culto.
Esse dia marcante para a vida da IPB e dos presbiterianos de Sergipe foi compartilhado também com a presença dos irmãos de Maranhão, Pernambuco e Alagoas.
Números do evento (dados enviados pela equipe de organização) Dos 76 municípios sergipanos, há trabalho presbiteriano em 39, dos quais 37 se fizeram presentes.
Destaca-se o envio de 11 ônibus, sob a liderança do decano rev. Hercílio da Costa Araujo e rev. Edson Teixeira, presidente do Presbitério Filadélfia.
Registra-se o decisivo apoio do Presidente do Sínodo rev. Ronildo Farias dos Santos, rev. Neemias Araujo de Carvalho e do presb. Laércio Lopes de Oliveira na organização do evento.
Registro de gratidão ao rev. Hernandes Dias Lopes conferencista da noite. Ao rev. Cilas Cunha Vice-Presidente do SC/IPB e ao rev. Jader Borges, Secretário Executivo da Comissão para o sesquicentenário. Ao rev. Roberto Brasileiro pelo irrestrito apoio empenhado.

Confira as fotos desse e dos demais cultos pelos 150 anos da IPB na galeria de fotos do Sesquicentenário:http://picasaweb.google.com.br/150anos

quinta-feira, 21 de maio de 2009

"OS IDIOTAS DE CRISTO"

Antônio Pereira da Costa Júnior

Ainda me lembro do tempo em que ser chamado de pastor era sinônimo de respeito e consideração. Hoje, nem tanto. Ter o título de pastor, em muitas ocasiões, virou sinônimo de vergonha pela má conduta de alguns que possuem o título. Outros até rejeitam serem chamados de pastor, não dá mais aquele impacto na televisão. É preciso algo mais...

Outros dizem até que foram chamados para uma classe especial de ungidos, diferentemente dos outros colegas de ministério. Contudo, creio que Deus escolhe os mais improváveis e indignos para serem pastores. Os incapacitados de si mesmo para serem capacitados por Ele. Lembra de Davi? De Moisés? Deus ama usar aqueles que são considerados despreparados.

Deus não está atrás, necessariamente, de pessoas de boa aparência, ou de boa oratória, ou aquele que tem muito dinheiro, ou o que tem muitos talentos, pelo contrário: “não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são”. Tudo isso para que “ninguém se vanglorie na presença de Deus” 1Co 1.26-29.

Hoje em dia ser pastor já não dá muito status. Alguns já nem querem mais esse título, preferem algo maior, grandioso, que chame mais a atenção. Que traga holofotes sobre si. Que impressionem os crentes atenienses deste século ávidos por novidades. Alguns se intitulam de apóstolo, iluminado, ungido com uma unção especial, paipóstolo – porque apóstolo já ta ficando sem graça. O que virá depois: pascanjo (uma mistura de pastor e arcanjo); apostobin (uma mistura de apóstolo e querubim)?

Não é isso que aprendemos dos verdadeiros servos de Deus. Lutero, por exemplo, se referia a si próprio como um “saco de verme”. Humildade é uma palavra pouco praticada na vida de alguns. Sundar Singh, o chamado apóstolo dos pés sangrentos – aliás, muito diferente dos chamados apóstolo hoje – contou certa vez uma história:

Um lixeiro converteu-se ao Cristianismo. Quando entregou a Cristo o coração, encontrou paz e sentiu-se salvo; tornou-se testemunha de seu Salvador. Quem o ouvia, comentava: "Este homem possui algo que ainda não temos". Quando pregava, prestavam-lhe a maior atenção possível. Um transeunte, certa vez, perguntou: "Por que ouvem com tanto respeito um lixeiro?" Ele mesmo respondeu: "Quando meu Salvador ia para Jerusalém montado num jumento, o povo trouxe capas e as colocou sob seus pés. Não sob os pés de Cristo, mas sob as patas do jumento. Por que fazer isso a um animal? É que nele vinha montado o Rei dos reis. Desde o momento em que Cristo o deixou, ninguém nunca mais pensou nele: Foi honrado somente enquanto Cristo o cavalgou”.

Em Atos 4.13 diz o seguinte: “Ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus”. A palavra grega para “incultos” é “idiotes” que significa “sem instrução”. Ela é a origem da palavra “idiota”. Percebe? Pedro e João foram chamados de idiotas. Mas o que importava não era o título, aqueles homens haviam estado com Jesus e foi isso que fez a diferença na vida deles.
Você foi chamado de idiota ou coisa parecida? O que fazer? Passe tempo com Jesus, aos seus pés, recebendo as instruções para a vida eterna e ele transformará tua alma e tua vida para sempre. Não busque títulos pomposos pra tua vida, queira apenas estar com Jesus, no fim das contas “pouco é necessário ou mesmo uma só coisa” Lc 10.42, escolha, pois a melhor parte.

Não importa quão pequenino você pareça ser, o importante é o Cristo gigantesco que você leva dentro de si, na tua vida, na tua família e na tua igreja. Mesmo que alguém diga que você é um idiota, não reclame, chamaram assim também com Pedro. “Idiota de Cristo”, eis um título interessante que os pregadores de hoje não querem ter.

E POR FALAR EM JUMENTO:

Conta-se que certa vez um pastor local, muito orgulhoso e cheio de si, ouviu dizer que um grande pregador estava visitando sua cidade, logo se aprontou e foi visitá-lo. Chegando lá, começou a dizer:
– amado pastor fulano de tal, eu sou um dos pastores dessa cidade, mas não um pastor qualquer, eu sou o melhor pastor da região. Olha, eu diria que eu, aqui, sou muito importante. Todos me bajulam, até mesmo as autoridades locais. E creio que Deus precisa muito de mim na sua obra. Eu conheço o hebraico e o grego fluentemente; sei de passagens bíblicas decoradas; tenho vários títulos teológicos; prego como ninguém aqui na redondeza; tenho a maior igreja da cidade, enfim, como disse: Deus precisa muito de mim.

O famoso pastor só fazia escutá-lo com a paciência de Jó. Daí, após refletir nas palavras do arrogante pastor, disse com a sabedoria que só os anos de ministério podem dar:
– sabe filho, a única vez que Jesus disse que precisava de alguém, esse alguém foi um jumento (Mc 11.2-3).

SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Adoradores ou Consumidores? O Outro Lado da Herança de Charles G. Finney

Augustus Nicodemus Lopes

A palavra "evangélicos" tem se tornado tão inclusiva que corre o perigo de se tornar totalmente vazia de significado — R. C. Sproul

Em certa ocasião o Senhor Jesus teve de fazer uma escolha entre ter 5 mil pessoas que o seguiam por causa dos benefícios que poderiam obter dele, ou ter doze seguidores leais, que o seguiam pelo motivo certo (e mesmo assim, um deles o traiu). Em outras palavras, uma decisão entre muitos consumidores e poucos fiéis discípulos. Refiro-me ao evento da multiplicação dos pães narrado em João 6. Lemos que a multidão, extasiada com o milagre, quis proclamar Jesus como rei, mas ele recusou-se (João 6.15). No dia seguinte, Jesus também se recusa a fazer mais milagres diante da multidão pois percebe que o estão seguindo por causa dos pães que comeram (6.26,30). Sua palavra acerca do pão da vida afugenta quase que todos da multidão (6.60,66), à exceção dos doze discípulos, que afirmam segui-lo por saber que ele é o Salvador, o que tem as palavras de vida eterna (6.67-69).

O Senhor Jesus poderia ter satisfeito às necessidades da multidão e saciado o desejo dela de ter mais milagres, sinais e pão. Teria sido feito rei, e teria o povo ao seu lado. Mas o Senhor preferiu ter um punhado de pessoas que o seguiam pelos motivos certos, a ter uma vasta multidão que o fazia pelos motivos errados. Preferiu discípulos a consumidores.
Infelizmente, parece prevalecer em nossos dias uma mentalidade entre os evangélicos bem semelhante à da multidão nos dias de Jesus. Parece-nos que muitos, à semelhança da sociedade em que vivemos, tem uma mentalidade de consumidores quando se trata das coisas do Reino de Deus. O consumismo característico da nossa época parece ter achado a porta da igreja evangélica, tem entrado com toda a força, e para ficar.

Por consumismo quero dizer o impulso de satisfazer as necessidades, reais ou não, pelo uso de bens ou serviços prestados por outrem. No consumismo, as necessidades pessoais são o centro; e a "escolha" das pessoas, o mais respeitado de seus direitos. Tudo gira em torno da pessoa, e tudo existe para satisfazer as suas necessidades. As coisas ganham importância, validade e relevância à medida em que são capazes de atender estas necessidades.

Esta mentalidade tem permeado, em grande medida, as programações das igrejas, a forma e o conteúdo das pregações, a escolha das músicas, o tipo de liturgia, e as estratégias para crescimento de comunidades locais. Tudo é feito com o objetivo de satisfazer as necessidades emocionais, psicológicas, físicas e materiais das pessoas. E neste afã, prevalece o fim sobre os meios. Métodos são justificados à medida em que se prestam para atrair mais freqüentadores, e torná-los mais felizes, mais alegres, mais satisfeitos, e dispostos a continuar a freqüentar as igrejas.

Esta mentalidade consumista por parte de evangélicos se mostra por vários ângulos. Numa pesquisa recente feita pelo Instituto Gallup nos Estados Unidos constatou-se que 4 em cada 10 americanos estão envolvidos em pequenos grupos que se reúnem semanalmente buscando saída para o envolvimento com drogas, problemas familiares, solidão e isolacionismo. Embora evidentemente muitos estarão em busca de uma oportunidade para aprofundar a experiência cristã e crescer no conhecimento de Deus, a maioria, segundo Gallup, busca satisfazer suas necessidades pessoais. De acordo com a revista Newsweek, 1 em cada 5 americanos sofre de alguma forma de doença mental (incluindo ansiedade, depressão clínica, esquizofrenia, etc.) durante o curso de um ano. E disso se aproveitam os espertos. Uma denúncia contra a indústria evangélica de saúde mental foi feita ano passado por Steve Rabey em Christianity Today. Cada vez mais cresce o marketing nas igrejas na área de aconselhamento, com um número alarmante de profissionais cristãos oferecendo ajuda psicológica através de métodos seculares. A indústria de música cristã tem crescido assustadoramente, abandonando por vezes seu propósito inicial de difundir o Evangelho, e tornando-se cada vez mais um mercado rentável como outro qualquer. A maioria das gravadoras evangélicas nos Estados Unidos pertence às corporações seculares de entretenimento. As estrelas do gospel music cobram cachês altíssimos para suas apresentações. Num recente artigo em Strategies for Today’s Leader, Gary McIntosh defende abertamente que "o negócio das igrejas é servir ao povo". Ele defende que a igreja deve ter uma mentalidade voltada para o "cliente", e traçar seus planos e estratégias visando suas necessidades básicas, e especialmente faze-los sentir-se bem.

Um efeito da mentalidade consumista das igrejas é o que tem sido chamado de "a síndrome da porta de vai-e-vem". As igrejas estão repletas de pessoas buscando sentido para a vida, alívio para suas ansiedades e preocupações. Assim, elas escolhem igrejas como escolhem refrigerantes. Tão logo a igreja que freqüentam deixa de satisfazer as suas necessidades, elas saem pela porta tão facilmente quanto entraram. As pessoas buscam igrejas onde se sintam confortáveis, e se esquecem de que precisam na verdade de uma igreja que as faça crescer em Cristo e no amor para com os outros.

Creio que há vários fatores que provocaram a presente situação. Ao meu ver, um dos mais decisivos é a influência da teologia e dos métodos de Charles G. Finney no evangelicalismo moderno. Houve uma profunda mudança no conceito de evangelização ocorrida no século passado, devido ao trabalho de Charles Finney. Mais do que a teologia do próprio Karl Barth, a teologia e os métodos de Finney têm moldado o moderno evangelicalismo. Ele é o herói de Jerry Falwell, Bill Bright e de Billy Graham; é o celebrado campeão de Keith Green, do movimento de sinais e prodígios, do movimento neopentecostal, e do movimento de crescimento da igreja. Michael Horton afirma que grande parte das dificuldades que a igreja evangélica moderna passa é devida à influência de Finney, particularmente de alguns dos seus desvios teológicos: "Para demonstrar o débito do evangelicalismo moderno a Finney, devemos observar em primeiro lugar os desvios teológicos de Finney. Estes desvios fizeram de Finney o pai dos fatores antecedentes aos grandes desafios dentro da própria igreja evangélica hoje: o movimento de crescimento de igrejas, o neopentecostalismo, e o reavivalismo político".

Para muitos no Brasil seria uma surpresa tomar conhecimento do pensamento teológico de Finney. Ele é tido como um dos grandes evangelistas da Igreja Cristã, e estimado e venerado por evangélicos no Brasil como modelo de fé e vida. E não poderia ser diferente, visto que se tem publicado no Brasil apenas obras que exaltam Finney. Desconheço qualquer obra em português que apresente o outro lado. Meu alvo, neste artigo, não é escrever extensamente sobre o assunto, mas mostrar a relação de causa e efeito que existe entre o ensino e métodos de Finney e a mentalidade consumista dos evangélicos hoje.

Em sua obra sobre teologia sistemática (Systematic Theology [Bethany, 1976]), escrita pelo fim de seu ministério, quando era professor do seminário de Oberlin, Finney revela ter abraçado ensinos estranhos ao Cristianismo histórico. Ele ensina que a perfeição moral é condição para justificação, e que ninguém poderá ser justificado de seus pecados enquanto tiver pecado em si (p. 57); afirma que o verdadeiro cristão perde sua justificação (e conseqüentemente, a salvação) toda vez que peca (p. 46); demonstra que não acredita em pecado original e nem na depravação inerente ao ser humano (p. 179); afirma que o homem é perfeitamente capaz de aceitar por si mesmo, sem a ajuda do Espírito Santo, a oferta do Evangelho. Mais surpreendente ainda, Finney nega que Cristo morreu para pagar os pecados de alguém; ele havia morrido com um propósito, o de reafirmar o governo moral de Deus, e nos dar o exemplo de como agradar a Deus (pp. 206-217). Finney nega ainda, de forma veemente, a imputação dos méritos de Cristo ao pecador, e rejeita a idéia da justificação com base da obra de Cristo em lugar dos pecadores (pp. 320-333). Quanto à aplicação da redenção, Finney nega a idéia de que o novo nascimento é um milagre operado sobrenaturalmente por Deus na alma humana. Para ele, "regeneração consiste no pecador mudar sua escolha última, sua intenção e suas preferência; ou ainda, mudar do egoísmo para o amor e a benevolência", e tudo isto movido pela influência moral do exemplo de Cristo ao morrer na cruz (p. 224).

Finney, reagindo contra a influência calvinista que predominava no Grande Avivamento ocorrido na Nova Inglaterra do século passado, mudou a ênfase que havia à pregação doutrinária para uma ênfase à fazer com que as pessoas "tomassem uma decisão", ou que fizessem uma escolha. No prefácio da sua Systematic Theology ele declara a base da sua metodologia: "Um reavivamento não é um milagre ou não depende de um milagre, em qualquer sentido. É meramente o resultado filosófico da aplicação correta dos métodos."

Finney não estava descobrindo uma nova verdade, mas abraçando um erro antigo, defendido por Pelágio no século IV, e condenado como herético pela Igreja, ou seja, que nenhum de nós nasce pecador; o homem, por nascimento, é neutro, e capaz de fazer escolhas para o bem e para o mal com inteira liberdade. Finney tem sido corretamente descrito por estudiosos evangélicos como sendo semi-pelagiano (ou mesmo, pelagiano) em sua doutrina, e um dos responsáveis maiores pela disseminação deste erro antigo entre as igrejas modernas.

Na teologia de Finney, Deus não é soberano, o homem não é um pecador por natureza, a expiação de Cristo não é um pagamento válido pelo pecado, a doutrina da justificação pela imputação é insultante à razão e à moralidade, o novo nascimento é produzido simplesmente por técnicas bem sucedidas, e avivamento é o resultado de campanhas bem planejadas com os métodos corretos.
Antes de Finney, os evangelistas reformados aguardavam sinais ou evidências da operação do Espírito Santo nos pecadores, trazendo-os debaixo de convicção de pecado, para então guiá-los à Cristo. Não colocavam pressão sobre a vontade dos pecadores, por meio psicológicos, com receio de produzir falsas conversões. Finney, porém, seguiu caminho oposto, e seu caminho prevaleceu. Já que acreditava na capacidade inerente da vontade humana de tomar decisões espirituais quando o desejasse, suas campanhas de evangelismo e de reavivamento passaram a girar em torno de um simples propósito: levar os pecadores a fazer uma escolha imediata de seguir a Cristo. Com isto, introduziu novos métodos nos seus cultos, como o "banco dos ansiosos" (de onde veio a prática de se fazer apelos ao final da mensagem), o uso de qualquer medidas que provocassem um estado emocional propício ao pecador para escolher a Deus, o que incluía apelos emocionais e denúncias terríveis do pecado e do juízo.

O impacto dos métodos reavivalistas de Finney no evangelicalismo moderno são tremendos. Seus sucessores têm perpetuado estes métodos e mantido as características do fundador: o apelo por decisões imediatas, baseadas na vontade humana; o estímulo das emoções como alvo do culto; o desprezo pela doutrina; e a ênfase que se dá na pregação a se fazer uma escolha, em vez da ênfase às grandes doutrinas da graça. As igrejas evangélicas de hoje, influenciadas pela teologia e pelos métodos de Finney, acreditando que reavivamentos podem ser produzidos, e que pecadores podem decidir seguir a Cristo quando o desejarem, têm adotado táticas e práticas em que as pessoas são vistas como clientes, e que promovem a mentalidade consumista nas igrejas evangélicas.

A relação entre os métodos de Finney e o espírito consumista moderno foi corretamente notado por Rodney Clapp, em recente artigo na Christianity Today (Outubro de 1966): "Ao enfatizar a importância de se tomar uma decisão para Cristo, Charles Finney e outros reavivalistas ajudaram na sacramentalização da ‘escolha’, elemento chave do consumismo capitalista de hoje. O reavivalismo [de Finney] encorajava sentimentos de êxtase e a abertura do indivíduo para mudanças costumeiras de conversão e reconversão" (p. 22).

O Senhor Jesus preferiu doze seguidores genuínos a ter uma multidão de consumidores. Creio que a igreja evangélica brasileira precisa seguir a Cristo também aqui. É preciso que reconheçamos que as tendências modernas em alguns quartéis evangélicos é a de produzir consumidores, muito mais que reais discípulos de Cristo, pela forma de culto, liturgias, atrações, e eventos que promovem. Um retorno às antigas doutrinas da graça, pregadas pelos apóstolos e pelos reformadores, enfatizando a busca da glória de Deus como alvo maior do homem, poderá melhorar esse estado de coisas.

sábado, 2 de maio de 2009

MARKETING PARA IGREJAS: Usurpando a glória de Deus

Leonardo G. Silva - Th.M.

Faz já algum tempo que ouvi uma palestra sobre crescimento de igrejas através do marketing. O expositor, Kevin Ford, falava das empresas seculares e das igrejas evangélicas para as quais ele havia prestado serviço de consultoria, fazendo modificações que variam desde a estrutura do templo, luzes e som, liturgia e até o tipo de pregações e o modo de ministrar a Palavra: tudo visando o aumento numérico, e a satisfação dos clientes, digo, fiéis.

O amigo Danilo, em um comentário no blog da CNBC que acabou virando post aqui no blog, enfatiza a essência do evangelho, que é loucura para os homens. Paulo assim dizia: “nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos” (1Co 1.23). Esse é o nosso kerigma, o nosso evangelho, a nossa religião: Ela é escândalo e loucura, e mudar isso significa privar o evangelho daquilo que ele é, transformando-o em algo que ele não é. Como disse o Danilo, é mudar o produto!

As agências de marketing igrejeiro, que já possuem ampla aceitação nos E.U.A., estão chegando por aqui também. Os pressupostos são os mesmos usados na outra américa: o velho pragmatismo. Não importa o método utilizado, e sim os resultados. Literalmente, vale tudo para atrair novos “fiéis” para a sua empresa, ops... digo, igreja.

O site da AMEN - Associação de Marketing Evangélico Nacional - é um vivo exemplo de como essas empresas trabalham, e de quais são as suas convicções: “Quem se diferenciar, não importa aonde, (eventos empolgantes, culto dinâmico, igreja atraente) com certeza irá ganhar com a migração e a conquista de muitos fiéis”. Destaque especial para palavra “migração”, que nada mais é do que o fluxo dos membros de uma igreja para a outra, a famosa pesca no aquario. Como se consegue a adesão desses fiéis? Com uma igreja atraente! Substitua a loucura do evangelho por pregações do tipo auto-ajuda; troque a velha e tradicional bandinha por um conjunto Pop; ofereça todo tipo de entretenimento possivel aos seus fiéis; nunca, e sob nenhuma hipótese, fale acerca do pecado ou enfatize a necessidade de arrependimento para a salvação; aliás, evite falar em salvação: essa palavra costuma escandalizar as pessoas...

Ainda no site da referida empresa, afirma-se que “o objetivo da igreja é converter pessoas. Para isso essas pessoas primeiro têm que ir até lá, se tornando necessário para as igrejas criar atrativos para isso”. Nem precisa ser teólogo para refutar isso. Esses caras estão negligenciando completamente o mandamento de IR por todo mundo e pregar o evangelho (Mc 16.15). Como nós mudamos a Grande Comissão! Jesus mandou que fossemos ao mundo, e nós queremos que o mundo venha à igreja. Aliás, deixe eu aclarar pela milhonésima vez que igreja não é templo, e sim o corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Chamar os prédios onde nos reunimos para congregar, de templos e querer associá-los ao Templo do A.T. é uma heresia ridícula. O Templo do Senhor somos nós (1Co 6.19; 2Co 6.16), e não as paredes luxuosas algum edifício (At 7.48; 17.24). Jesus não ordenou que os pecadores venham a igreja (prédio), e sim que a igreja (nós) vá até os pecadores.

Por último, deixe-me falar acerca da salvação. A salvação, biblica e teologicamente, sempre foi um ato de Deus. Jesus disse: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último Dia” (Jo 6.44). É Deus quem atrai! E é mais: ninguém se converterá a Cristo, sem antes atender aos apelos do Espírito Santo em seu coração, pois é somente ele quem convence o homem do seu pecado (Jo 16.8). Sendo assim, seria uma ignorância muito grande dizer que alguém foi salvo graças às estratégias de marketing. Isso é usurpar a glória de Deus. O marketing igrejeiro pode até resultar na adesão de clientes, mas não na multiplicação de fiéis. A salvação pertence ao Senhor! (Jn 2.9).

Soli Deo Gloria
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